30 setembro 2008

Filantropo II


Também eu me orgulho muito destes 17 anos de convívio com colegas e amigos talentosos (obviamente, ignore-se o miúdo no que diz respeito aos 17 anos). A preocupação com o outro, a solidariedade e a amizade, são sentimentos constantes neste grupo de artistas.
Para ilustrar tamanha lamechice, a bordejar o sentimentalão masculino, lânguido e piroso, venho trazer a público uma prática mais ou menos corrente, que foi avivada com a introdução no mercado das telecomunicações, de tarifários que incentivam o uso desbragado do telemóvel. Assim, e porque só aderi há umas semanas a este tarifário aonde adquiri um estatuto de jovem (ao ser tratado na segunda pessoa) e revolucionário (não de cravos mas de laranjas), tenho diariamente recebido uma ou mais mensagens, de um grande amigo deste grupo (cujo o nome vou também manter na discrição), aonde me reporta momentos de agradecimento divino e reflexão acerca do seu estatuto de “pessoa humana” ao qual está subjugado.
Algumas das mensagens:
“Mais cedo ou mais tarde, ele sempre aparece! Acabou de cantar no fundo das águas…”; “Brown hour is back again today”; “Et consumatum est… já saiu”.
A partilha é sem dúvida uma das maiores conquistas da humanidade. Lutemos por ela!

28 setembro 2008

Formação profissional

A formação profissional tem sido uma das grandes preocupações dos governos dos últimos vinte anos. Todos nós ficamos a ganhar com mão de obra especializada, que vá de encontro às nossas mais básicas necessidades.
Talvez por isso encontrei há pouco a Academia de Formação em Estilismo de Unhas, que sinceramente deve ser a formação mais especializada que conheço. Infelizmente não me pude informar que grau académico esta academia confere, mas eu próprio estaria muito interessado em frequentar um mestrado em unhas de porcelana.
Esta Academia, que não sei qual o grau de sucesso que tem, traz-me à ideia a notícia que li há uns dias atrás, de que o curso superior de higiene alimentar e catering não teve nenhum a admissão, porque ninguém se interessou por tão interessante saída profissional. É estranho, não é?Esta Academia lembra-me uma velha piada ordinária sobre o senhor que pediu um implante de uma unha... ai não me lembro onde... bolas, tinha mesmo piada, mas não me lembro... só me recordo que o motivo era que a mulher era muito boa a roer as unhas.

25 setembro 2008

FIilantropo

Os meus colegas de grupo são excelentes pessoas, com um coração de ouro. Aliás, se assim não fosse, não estávamos juntos há 17 anos. Dou muito valor ao sentido humanitário da pessoa humana.
Hoje, como acontece todos os dias e várias vezes durante o mesmo, recebi um sms de um deles. Somos assim, dependentes uns dos outros, com laços muito fortes, que felizmente tarifários como o Tag vieram facilitar. Não vou dizer qual deles me contou esta história, porque as boas acções são ainda mais valorizadas quando ficam no anonimato. Pois bem, este meu querido colega foi despertado por um pi-pi de uma mensagem. Vinha de um número desconhecido e dizia: "A minha mulher acordou hoje a vomitar e não pode reunir com os senhores". Mensagem de desespero vinda de um desconhecido! A nossa alma caridosa, o nosso filantropo, esteve à altura do facto e respondeu o que esperamos numa situação destas: desejou as melhoras e disse para a senhora ter mais cuidado com o que come. Lindo. Estou mesmo orgulhoso de ter amigos assim.

21 setembro 2008

Badochas

A Organização Mundial de Saúde há muito que vem alertando para o problema da obesidade. Confesso a minha distracção, pois nunca tinha visto, apesar de volumoso, a dimensão do problema. Tenho alunos tipo-bola, convivo com gente bem anafada e até quando o Vilhas se distrai mais, todos reparamos, fazemos comentários e acabamos por despoletar uma dieta no baixo africano.
Mas nada disto se compara com as dezenas, talvez centenas ,de obesos que vi estas férias. Gente gorda mesmo. Falo-vos de massas enormes que se moviam com dificuldade pela areia, ou que mergulhavam no oceano provocando ondulação suplementar, bem distinta daquela que é regida pelas forças magnéticas do planeta. Falo-vos de badochas: crianças e adolescentes em corpos de baleias, orcas ou até de bovinos, que muito me deixaram assustado!
Problemas hormonais de lado e tento arranjar explicação para tanta gordura. Estética? De todo! Os corpos bem fornecidos de substância gorda há muito deixaram de estar na moda. Ficam bem nos quadros do Velazquez, ou até, séculos depois, nos filmes a preto e branco dos anos 10 e 20 do século passado. Mesmo nestes casos, a gordura é aceitável e pode até ser formosura (o Jony aqui poderia dar ajuda, com argumentação muito própria). No que eu vi, não era de certeza. Não há formusura possível numa área tão alargada de ser humano. Encitamento à robustez? Não. Criança bem nutrida, também há muito que deixou de ser sinónimo de saúde. E aquilo que eu vi não eram seres bem nutridos. Eram postas volumosas de carne.
Segui, num passeio pela praia, um grupo de três adolescentes, badocha-style, e aos poucos fui encontrando a justificação para a existência de tanta gordura. Levavam pela mão uns sacos onde alojavam toneladas de comida. Pãozinho caseiro? Fruta? Nada disso! Primeiro, quais debulhadoras, limparam pacotes de batatas fritas e snacks. Vários. A seguir comeram alarvemente uns nacos de pão recheados com carne de porco (consegui sentir o cheiro atrás...). A acompanhar refrigerantes. Cada um, mais de uma lata. Para terminar um bolicao e um chocolate!
Estou a descrever-vos aquela refeiçãozinha frugal do meio da manhã, aquela que no meu tempo (obrigado mãezinha) era um pãozinho, uma peça de fruta e água ou leite.
Não me estranharia nada que depois daquilo tudo, os três porcões se tivessem dirigido ao McDonalds mais próximo para continuarem a encher o bandulho. Mais filosofo e conjecturo, provavelmente os pais até lhes teriam dado o dinheiro para eles continuarem a enxofrar o corpo de comida enlatada.
Pois é, hoje em dia acabou o saquinho de pano, a visita à padaria logo pela manhã, a lancheira escolar. O Kinder delice, o bolicao, o panrico com nutella, as bolachas do Ruca e tantos outros produtos vão-nos poupando tempo precioso, agradam muito aos meninos e ao mesmo tempo vão criando panzers humanos. Pessoas (e pensar isto choca-me muito) que deixam de ver os seus genitais! Isto não abona em nada! E pior, prejudica até a higiene!
Por isso amigos, cuidado com o que comem e com o que dão a comer. Não queiram ter as visões gigantescas que eu tive estas férias... e só por causa disso os meus potenciais badochas cá de casa passaram a um regime de água e pouco mais...

18 setembro 2008

Podcast

Bom dia... assim começa todos os dias o "Vozes no Rádio" no Rádio Clube Português. Também hoje e aproveitando um intervalo aproveito a manhã para deixar aqui um pequeno recado.
Nos comentários em baixo há gente a perguntar como pode ouvir o programa na internet. Há gente frustrada que não consegue, há gente triste que não ouve... a minha experiência tem sido sempre positiva. Vou a http://radioclube.clix.pt e lá selecciono Podcast. A seguir em Rubricas selecciono Humor. Dentro do humor lá está Vozes da Rádio. Depois é só clicar na data que se pretende ouvir. Ah! não esquecer de ligar as colunas. É fundamental nas experiências auditivas.
De qualquer modo, brevemente iremos começar a por aqui no tasco os programas para audição. Não vai haver desculpa para não poderem ficar um bocadinho mais estúpidos.
E para terminar deixem-me dizer-vos que a foto que decora este escrito foi tirada a bordo de um Spainair, o que é digno de registo. Pronto, já cumpri com a minha parte de estupidez diária.

13 setembro 2008

Croquetes

Volto às minhas observações. Volto aos meus passeios de verão e à minha passagem pela praia. Para início devo dizer que gosto tanto de praia, como o Vítor Baía gosta do Scolari. Uma esplanada, com boa comida, bebida e boa companhia, sim. Agora o desperdício das horas estendido na areia é algo que não me entra na cabeça desde muito novo. Por isso o tempo em que sou obrigado, por motivos que não medem mais de um metro e vinte, a pôr os meus pés na areia, passo-o de antenas ligadas e sentidos bem apurados.

Já sei, está toda a gente a pensar que vou para lá como voyeur, tentando sempre encontrar toplesses que comprovadamente passam com distinção no teste do lápis. Mas não. Observar é muito mais do que isso, ou melhor, é isso e muito mais.

Assim, e num dos dias de tormento no areal, olhei um pouco para cima e avistei a poucos metros uma senhora nos seus tardios 50 (aquilo a que eu há poucos anos atrás chamaria de velha, mas que agora, com o passar do anos, tendo a ser mais cuidadoso no uso desta palavra), com um borrifador, daqueles com aerosol, que de 5 em 5 minutos esguichava água para cima do seu corpo. O seu corpo seco e quase preto fez-me recordar os mais reles croquetes que volta e meia eram servidos na cantina do ciclo preparatório. Eram croquetes claramente feitos de restos, mirrados, sem carne e esturricados, passados por óleo que já tinha visto mais de cem espécies do mundo animal e vegetal. O paladar é impossível de pôr em palavras, mas para avaliarem, os ditos croquetes só eram comidos porque a fome àquela hora, tal como os croquetes, era negra.

Saltou-me à memória uma viagem das Vozes. Não sei em que ano, mas seguramente com tempo quente. Nesse dia, o Vilhas estava particularmente empertigado com o movimento de veraneantes que entupia a estrada. Tudo gente que, como a dita senhora, buscava a condição do croquete. Vociferou nessa altura o nosso baixo: “Durante 400 anos deram-nos porrada e chamaram-nos atrasados. Agora vai a carneirada toda para a praia tentar ficar preta como nós. Afinal quem são os atrasados?”. Sábias palavras! Afinal que raio de gente atrasada é esta que busca a condição dérmica de um Obikwelu ou de um Samakuva? O que é que estas últimas gerações buscam ao fritarem ao sol, além da óbvia futilidade? Ou, pior ainda, depois do sol já não convidar a prolongadas horas de inutilidade, que quer esta gente ao tentar perpetuar a cor debaixo de lâmpadas? Não é isto tão ridículo como o Michael Jackson branco?

O meu sentido mais altruísta e os bichos-carpinteiros quase me levaram a levantar e a dirigir-me àquele corpo em pior estado que o Tutankamon e a dizer-lhe: “tu eres asquerosa, tía. Tu piel es peor que las croquetas de mi escuela. No hay hombre, mujer o perro, hasta lo mas ciego, que te pueda querer así, coño! Piensa blanco, joder!”.

Infelizmente nem sempre o meu filantropismo e misericórdia falam mais alto. Foi o que aconteceu neste caso. Deixei-me estar, procurei sombra e continuei a brincar com as forminhas.

Vilhas e o seu ar empertigado. "Afinal quem é atrasado? Nós os pretos?". Não Vilhas, tens toda a razão. São os croquetes!

09 setembro 2008

Globalização

A ameaça vem de uns esgalhanços atrás. Pequenas reflexões sobre observações. A única forma gratuita para nos inspirarmos. E reafirmo o que escrevi na altura, a mais brilhante.
Esta tem já alguns meses. Se não fosse uma imagem caberia certamente no nosso programa de rádio, mas como ainda não inventaram rádio com imagem, tenho de me servir das paredes do tasco.
Kebab e pizza são dois pratos cuja origem se perde no tempo. Tentei informar-me sobre a sua génese. Há poucas certezas, apenas indicações que tudo se cozinhou e cozinha à volta do mediterrâneo: uns a norte (as pizzas), outros a sul (o kebab). Há no entanto kebab no sul de França e o célebre pão pita, que também já tem versão fast-food no shoarma, pode estar na base da pizza. Sendo assim... porquê o "Hong Kong style" que aparece na foto? Então o mediterrâneo também já lá chega? Há pizzas e kebab com travo a rebentos de soja e nós não sabemos? Afinal além da massa, invenção dos chineses que o Marco Polo comprou no Oriente e no regresso levou para Itália, também as pizzas e os kebabs foram inventados em Sichuan entre duas abanadelas? Porque raio existe este restaurante em Great Yarmouth, no leste de Inglaterra, a servir esta aberração culinária?
Respostas? Nenhuma! Mas há um resultado da observação: a isto se chama globalização. É contra isto que o Bloco de Esquerda, os hippies, os produtores de queijo da serra e mel de rosmaninho e tantos mais, militam de forma fervorosa. O medo de vermos um restaurante de Reykjavik a publicitar alheiras de Mirandela "Srebrenica style" é real. A ameaça de tortas de Azeitão "Djibouti style" está à porta. É preciso estar atento. Vigilante. É preciso saber defender o que é nosso: a vitela barrosã, as enguias da Murtosa, a sericaia com ameixa do Alentejo, os peitos da Ana Malhoa. Vamos à luta! Preparemo-nos para a guerra! E para começarmos a treinar vamos até à Abkházia, onde, por estes dias, se vive a verdadeira globalização.

08 setembro 2008

Já rola!

Eram 8h25m e ouvia-se Vozes no RCP! Começou hoje o "Vozes no Rádio", tendo esta primeira intervenção versado os Jogos Olímpicos. Amanhã há mais, e haverá todos os dias úteis, de segunda a sexta, neste mesmo horário.
Esta última noite foi curta. Estivemos a trabalhar até às 4 da manhã nas próximas emissões. Por isso não se espantem com a indumentária que podem ver aqui ao lado. Vozes de roupão vai passar a ser normal nos próximos tempos: ora porque se deitam tarde para fazer programas, ora porque se levantam cedo para os ouvir.
Vou virar-me para o outro lado e dormir mais um pouco...

05 setembro 2008

Vozes no Rádio

Este até poderia ser o maior segredo do mundo guardado até hoje, mas a verdade é que a confirmação do novo programa das Vozes da Rádio numa rádio tem pouco mais de 24 horas. Por isso mesmo, só hoje houve tempo de o tornar público.
Sim! É verdade! Após meses de namoro, desde a nossa participação na Gala do Rádio Clube em Janeiro, eis que, num abrir e fechar de olhos, a consumação matrimonial dá-se em muito poucos dias! Menos de meia dúzia de telefonemas, sms e e-mails e estávamos mutuamente comprometidos a ser felizes, pelo menos durante um ano.
A partir de 8 de Setembro, às 8h20m no Rádio Clube Português haverá Vozes da Rádio. De segunda a sexta o nosso espaço, que se chamará Vozes no Rádio, será a visão musico-sociológica deste mundo em que vivemos. Pelo menos a nossa visão.
Para já não há muito mais que possamos adiantar, até porque entramos em catarse criativa. Até domingo tem de haver muito trabalho feito. Por isso, até já.

04 setembro 2008

Finalmente o regresso a casa!

Andei fora, como um vadio, mais de cinco semanas, com uma passagem meteórica por casa para trocar de mala e seguir para férias. Foi Avis, foram os passeios de Verão, foi o Estoril e dia 31 de noite voltei ao lar, doce lar.
Vacilei muito sobre como marcar este regresso. Começar com uma série de observações de férias, algo que já ameacei no esgalhanço anterior, seria o mais natural. Falar sobre o concerto do Estoril e o sucesso que foi, seria o mais óbvio. Mas infelizmente, há notícias que nos abalam e, por fazerem tão parte de nós, têm de vir parar aqui ao tasco, mesmo que na maior parte das vezes seja penoso dá-las. Estas férias, como em quase todas, parece sina, fui abalado pela perda de mais um amigo. Como sempre, novo demais para não estar aqui a ler mais este esgalhanço. Como sempre, bom demais para não continuar a cantar, a tocar e a sorrir com os companheiros da Tuna. Como sempre, vai-nos fazer muita falta.
Dia 1 acordei a ler o rodapé das notícias. E foi ali que li que o poeta e crítico literário Joaquim Castro Caldas também nos deixou. Nesse mesmo dia recebi um e-mail de um amigo com a notícia da morte e um poema. Conheci-o nas famosas noites do Pinguim onde muitas 2as feiras fui ouvir poesia. Falei com ele umas duas, três vezes antes da meia-noite, a hora em que descíamos para as catacumbas do Pinguim. Vi-o no Carlos Alberto no "Mais Mar Houvesse" que contava também com o nosso Vilhas na banda desta peça. E com ele ouvi a melhor poesia, aprendi, conheci, faz já 20 anos, muitos dos poetas e da poesia que hoje leio e recomendo. Dele, ao balcão do Pinguim, roubei uma expressão que uso, e que na altura achei engraçada: "traz-me um balde de cerveja, por favor". Por isso mesmo, e por ter sido público este desaparecimento, venho aqui ao tasco agradecer-lhe o que me ensinou e nos deixou. Como este poema do último livro "Mágoa das Pedras" e que veio no e-mail do Jorge Castro Ribeiro:

Vão-se embora palavras
Deixem-me ali à esquina
Amem e façam-se à vida
Não temam a morte voem
Sabem que são minhas
Para lá dessas fronteiras
Que desapertam as rimas
Com poemas ou bombas
Fucem apanhem boleias
Só vos deixei preparadas
Para os cornos dos poetas

Roubei esta fotografia deste blog, um excelente blog, diga-se de passagem. Faço-o pelo pior motivo, pelo que espero que o fotógrafo não se importe. É que é exactamente esta a imagem que guardo dessas noites do Pinguim e não podia deixar de a mostrar aqui. Como sempre, vai fazer-nos muita falta.