17 setembro 2006

O casamento – capítulo I

Há quinze dias relatei aqui a despedida de solteiro do Tó. Seria uma enorme lacuna não contar agora o casamento. Por ter sido um dia intenso e cheio de peripécias vou dividir a narrativa em pequenos episódios

A viagem

Lamego foi o local do enlace. Já fiz a estrada até lá centenas de vezes, mas desde a inauguração da A24 que se coloca sempre o dilema: por Vila Real ou por Mesão Frio? Acabo sempre por escolher Vila Real e a tal auto-estrada. As vistas do Douro são fantásticas, o ziguezaguear pelos socalcos é delicioso e as pontes sobre o Douro e o Balsemão imponentes. Quem ainda por lá não passou, não sabe o que perde!
Eis que chego à cidade. Estaciono perto da Sé mas topo logo no Café Maia com velhos conhecidos. Estavam em plena preparação para acolherem a palavra do Senhor da forma como Ele quer: em festa! Juntei-me ao Adélio, ao Mezenga, ao Atila, ao Joe e ao Darth mas como aspirava apenas manter-me acordado tomei café, o que me distinguiu das cervejas dos demais. Eles, numa atitude sapiente, tinham também mastigado algo. Com casamento às 14h é preciso saber fazer a gestão do estômago. E eles souberam-no. Levantámos ferros e fomos para a Sé.

A cerimónia

Na porta da Sé reencontrei muitos dos que 15 dias antes tinham andado na farra. E que diferença, meus amigos! As roupas andrajosas deram lugar a fatos caros, o cheiro a bebida aos finos perfumes, o monco caído do fim da noite a sorrisos radiantes.
Fui interpelado por um autóctone que iniciou um monólogo sobre a cidade de Lamego. Não sei se o senhor está a soldo do turismo local, mas pareceu-me estar necessitado de acompanhamento psicológico. Lembrei-me logo das estudantes de psicologia brasileiras com quem tínhamos estado na despedida de solteiro. Bem podiam elas estar a prestar serviço social e cívico a casos como o deste senhor, nas horas em que o sol não se traveste de lua.
Vem o noivo. Resplandecente, sorriso largo, cabelo aparado. Entrámos na nave da igreja e esperámos pela noiva. Entretanto um coro e um pequeno agrupamento instrumental preenchem os tempos mortos. Chega a noiva, salta a marcha nupcial. Ofuscando o já brilhante noivo, a Migui avança decidida para o altar. O Sr. Padre começa a função e logo sinto o perfume da pronúncia beirã com os esses muito sibilantes. Gosto desta sonoridade.
O tempo vai avançando. A fome também. Eram 15h18m e cantava-se “Pai-nosso em Ti cremos…”. Também eu já queria àquela hora enfiar algo para a blusa. Confesso que prestei pouca atenção à cerimónia. São já dezenas e dezenas de casamentos e o argumento não tem variado muito nos últimos anos. O corpo estava lá mas o espírito planava, nem sei bem por onde. Aterrava sempre que ouvia música. Também desceu na altura das leituras. Estávamos às portas das 16h quando saímos da Sé.

A música

Visto agora o papel de crítico musical. O pequeno coro e quarteto de cordas com trompete e teclado esteve muito bem. Boa afinação, bem musical, à altura dos acontecimentos. O repertório muito eclético. Talvez demais para o meu gosto. Ter no mesmo disco o Aleluia de Haendel, o Minuete de Boccherini, o Can´t help falling in love e o Avé Maria de Schubert faz-me lembrar aqueles pratos de sobremesa em que se mistura tudo que há no frigorífico, vulgo pijama. Mas foi óptimo ver ali o Manuel Soares nos gorjeios, o Jaime na trompete, o Ernesto no teclado e direcção e rever a viola d’arco com os olhos mais azuis que eu conheço, a Lúcia, simpática e bonita como aliás sempre foi.

A saída

Já falei do brilho dos noivos e dos lindos fatos em desfile.Mas algo à saída da Sé me ofuscou de forma violenta e provavelmente vai mudar a minha existência daqui para a frente. Os pés do Bragança.

Sapatilhas do Bragança

Não propriamente o pé, nunca o vi, nem tenciono ver, mas o que ele tinha calçado! Uma sapatilha cor-de-rosa. Metrosexual, daltónico… foram algumas das explicações. Mas eu percebo-te, Bragança. És apenas um provocador e eu gosto disso. Também o sou à minha medida. No entanto não calçava aquela sapatilha num casamento… ia descalço!

2 comentários:

Maria disse...

Realmente esses sapatos são uma provocação!!!

Anónimo disse...

Realmente já não se pode dar largas à imaginação.
Tudo aquilo que não é politicamente correcto, seja lá isso o que for, é logo entendido como provocação.
Se nos abstrairmos da cor e do tipo de calçado, até que .o bragança está dentro dos cânones.
Assim, devemos entender este gesto como abertura de novos horizontes, só possível a quem contacta com outras frequências .
Contudo, chegou-nos a informação, de fonte fidedigna, mas confidencial, que o bragança decidiu não voltar a repetir o feito. Não pela pouca receptividade demonstrada, mas por, desde então, ter umas bolhas nos pés como companhia nas ultimas noites.
Bragança, as melhoras, e um abraço por seres ousado!

P.S. Darei um toque ao Garcia Pereira.