Esta coisa do preço do petróleo e de todos os preços que sobem e não descem, não sei bem porquê, levou-me a relembrar uma das histórias da Vozes da Rádio mais hilariantes que tenho na memória.
Estávamos nós no ano de 1996 no então território Português, Macau.
Integramos uma comitiva portuguesa que foi participar num festival internacional de música e entre outros portugueses estavam connosco os Gaiteiros de Lisboa e Rui Veloso. Nos vários passeios que tivemos oportunidade de dar, um marcante foi a visita a um dos mercados de Macau.
Nessa manhã fui apenas eu e o Jony. Aparentemente era um mercado como qualquer outro Ocidental. Apenas o cheiro (que é diferente mesmo fora do mercado) e o chão bastante molhado nos fez notar que estaríamos tão longe. No entanto, ao ver melhor os produtos que eram vendidos, fez-nos aguçar o apetite da descoberta. Entre os animais vivos vendidos não existiam apenas galinhas mas também outros que para nós seriam mais estranhos. Os peixes também eram diferentes e a forma como estavam expostos, em terrinas com cerca de 10cm de altura a transbordar de água, pois mangueiras estavam postas sobre elas, e cheias de peixe a barbatanear, faziam-nos esboçar o sorriso de turista. Os vendedores ao verem-nos tão entusiasmados sempre que nos aproximávamos dos balcões com as terrinas, eles tiravam um peixito e vociferando palavras, para nós imperceptíveis, separavam metade da cara do peixe com um afiado cutelo; assim mantinham o peixe vivo e o sangue a escorrer juntamente com a água terrina fora, eram o sinal da frescura e vitalidade do produto (espero que a ASAE ao ler este esgalhanço não se meta no Lusitânia Expresso e vá a estas longínquas paragens incomodar os senhores comerciantes).
Bom, ainda neste cenário, reparamos numa senhora que comprava uns quilitos de rãs já preparadas pelo comerciante. As rãs encontravam-se dentro de um grande cesto que ao olharmos com atenção víamos umas patitas a quererem mexer e quando o homem retirava dois ou três bichinhos cá para fora, com rapidez, tínhamos de reparar que eram rãs. Digo com rapidez pois o gesto veloz e preciso do vendedor com o cutelo, rapava a cabeça das rãs e enquanto a mão direita com um toque de minúcia arrastava a mesma e a tripalhada até um saco de lixo, com a esquerda metia o corpo num saco sobre uma balança.
A descrição da visita termina aqui. Com estas perturbantes observações fomos até ao hotel. Como era costume, partilhamos as experiências e com um rasgo de genialidade contamos tudo quase exactamente como foi na realidade. Apenas romanceamos um pouco e dissertamos acerca da verdade dizendo que o vendedor das rãs antes de colocar a cabecinha do bicho no cesto do lixo chupava-as e assim se ia satisfazendo com tamanha iguaria.
Já na viagem de regresso, naquelas cerca de dezasseis horas de voo, os nossos amigos Gaiteiros num momento e o Rui Veloso noutro, contaram esta mesma história dos chupa cabeças de rãs do mercado de Macau como história que lhes fora contada de fonte fidedigna…
Agora já sei porque associei esta recordação a esta nossa crise dos preços. Afinal, nós também somos bem humorados.
Aqui a parelha de humoristas em Macau mas em Junho de 2001