É sempre muito difícil explicar a quem não viveu, o que foi o 25 de Abril. Eu, que na altura tinha cinco aninhos, recordo-me bem desse dia, da forma como vim da escola, do meu pai "preso" no outro lado da cidade e todos os dias a seguir: foi um mundo novo, diferente, com que me deparei.
Da mesma maneira, na noite de 24 para 25 de Abril de 94, estava com as Vozes em Lisboa, naquela que seria a estreia absoluta da versão dos Índios da meia praia. O programa de televisão era o Turno da Noite, a estação a TVI e um mundo novo apareceu-nos pela frente.
Nesse dia, já eu contava 25 anos, percebi toda a essência da liberdade. Algumas das mais básicas conquistas de Abril estão neste excerto que aqui vos deixo. O fim do programa, um cantor de que não me recordo o nome canta Zeca Afonso, sendo acompanhado pelo tio Júlio, pela Helena Roseta, pelo Emilio Aragon do Jogo do Ganso, por nós Vozes, pelos Entre Aspas, pelos Frei Fado, pelo Manuel Faria. Ambiente de festa com cravos e tudo. Ia tudo tão bem que o nosso amigo Júlio Isidro, num acto heróico, inflecte de Zeca Afonso para o hino do programa Turno da Noite and... Júlio takes the lead! E é a apoteose! Todos dançámos, saltámos, vibramos com a riqueza musical. Mas não só nós... reparem bem num senhor do público que, quase no fim deste excerto, canta e dança com espírito revolucionário, como que possuido pelo Che. Também para isto se fez o 25 de Abril, amigos! Para podermos livremente extravasar os nossos sentimentos, para vivermos sempre em festa... até para o Júlio Isidro cantar... mesmo que nos custe ouvir!
Este 25 de Abril iremos comemorar de forma bem mais aburguesada. Já a bordo do cruzeiro (que está mencionado uns posts abaixo) iremos cantar música de intervenção. Até porque intervir em alto mar, perto da piscina, é muito melhor.