04 maio 2008

As mães são as mais altas coisas que os filhos criam

O dia é das mães! E dos seus filhos, que as fizeram mães. Por isso hoje as palavras ficam para quem as sabe usar. Fica Herberto Helder, e fica muito bem:

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas senta-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
a através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.


E em especial para a minha mãe, uma música que ouço desde sempre. Talvez já no ventre. Simples como ela, e que me faz pensar que é por isso que gosto das coisas simples

Feliz dia da mãe.

4 comentários:

Anónimo disse...

Com todo o respeito pelo HH, pelas "nossas mães" e também pelo seu contrário - "mãe há só uma" - aqui deixo um O'Neill, agora que já passa da meia noite e é outro dia. Aqui vai ele:

"Fala"

Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar.


Avec le temps...

P.S. - Numa próxima irá o slogan publicitário original da Bosch...

Joca disse...

É brom! é brom! Toma lá O'Neill!
Por breves linhas este espaço até parece bem frequentado!

abraço pour les temps!

isabel disse...

E é tão simples agradar uma mãe!!!

ritzpicz disse...

Basta um sorriso!