10 junho 2008

Dia da Raça

O dia parecia ter começado no paraíso: feriado, céu azul, os camionistas a desmobilizarem, os mineiros desaparecidos, lá na Ucrânia, a saírem com vida, a Itália a ser humilhada pela laranja mecânica (e eu que sempre gostei do Kubrik). Eis senão quando uma gaffe do Sr. Silva (assim conhecido na Madeira) veio estremecer a calma que o dia anunciava. “O dia da raça” fez irar o bloquista Rosas, que de inflamada verborreia se indignava na tsf, com o carácter arcaico e racista da expressão. O vulcão era tão grande que se cheirava o mau hálito do douto professor pelas ondas hertzianas. À raiva seguiu-se a pergunta: “gostaria de saber a raça do português que marcou um golo, belo golo por sinal, contra os turcos, e que afinal é brasileiro…”. Referia-se ao Pepe, com certeza. Boa pergunta, sem dúvida, até porque é sabido Petit é de raça Pit Bull. Fui buscar um velho almanaque, “Todos os Cães”, de um tal Pugnetti, italiano que pesquisou as raças caninas e compilou-as num livro excelente, onde além das características do canídeo, a sua alimentação, longevidade média e outras curiosidades, se junta uma foto para melhor se identificar o animal. Nada… não vi o Pepe. De Abel Xavier ainda vi traços no Pelado Chinês, com o seu penteado espetado, e com um bocadinho de boa-vontade lá liguei o João Moutinho ao Akita Inu, uma raça onde a ideia de grande porte não existe.
Teimoso como sou, mudei de enciclopédia. Passei para o reino animal. Além de todas as raças, tenho neste livro, todos os animais mamíferos. Virei-me para os símios e… cá está: macaco-esquilo, com o seu pelo rapado no cocuruto. Respondo assim à curiosidade do Sr. Prof. e com certeza ao problema existencial das últimas 24 horas. Afinal até o Pepe tem raça.
A nossa raça, a das Vozes, é discutível. Pelo facto de usarmos a voz, somos conotados com as aves canoras e com todo o universo Messiaenico (de Messiaen). Seremos rouxinóis, melros, canários, cotovias? Pois não sei. Tenho agora que analisar o meu guia de aves e se possível arranjar sons gravados de cada uma para identificar a nossa raça. O Vilhas parece-me claramente ser um Mocho-Galego.
E já que falo em Galegos, aqui fica o vídeo do dia. Gravado precisamente há dois meses, em Ferrol, no Centro Cultural Torrente Ballester, apresenta-nos a cantar a Berta, dos nossos amigos Mafra. Os galegos são de raça porreira! Recebem e tratam-nos bem. Têm boa comida e bebida, e gostam de festa! A canção, num português com sotaque do Porto, mostra a maior riqueza da nossa raça: a nossa língua!
Do serôdio Professor de História, pois que não encontrei enquadramento canídeo para ele. Haverá, com certeza canis lupus que lhe sirvam, mas neste momento mais do que identificar a raça, julgo precisar urgentemente de uma anti-rábica. E de aproveitar o feriado para fumar o seu cachimbo e relaxar…

3 comentários:

Rosa Y Casaco disse...

Oub' lá,

Por muito que o Rosas me cause urticária, creio que a gaffe do Sr. Silva é bem mais que um lapso freudiano. Apesar da reacção desproporcionada do historiador, a referência ao Dia da Raça numa cerimónia aparentemente democrática parece-me, no mínino, temerária.

No ano passado, este senhor afixou isto:

http://diesdomini.blogspot.com/2007/06/o-dia-da-raa.html

João o Protestante disse...

A imagem do mocho-galego não me sai da cabeça! eheheh muito bem texto

Guilherme Monteiro disse...

Curtido! :-)
Abraços,
Gui