12 junho 2007

Vozes na Baixa do Porto

“Sou um gaijo do Porto, olha a grande nubidade, represento bibó morto, o mau jeito da cidade”, assim começa uma das canções que cantámos com os Trabalhadores do Comércio na passada sexta. E a verdade é que ou por mau jeito ou mau feitio sempre que vou à noite ao centro do Porto, fico de tal maneira irado que me sinto capaz de “dar no osso” (como também diz a canção) naqueles que nos últimos 20 anos tem deixado morrer a cidade. É que aquelas ruas fantasma por onde andei na quinta-feira com o Jony, são as mesmas que há 20 anos eu fazia todos os dias aos encontrões: Passos Manuel, Santa Catarina, 31 de Janeiro, a Praça da Batalha… Alguns dos responsáveis pela desertificação da cidade, pela fuga de investimento do centro, pela especulação imobiliária continuam em circulação… e não há quem lhes acerte o passo!
Mas falemos do passeio. O ensaio com os Trabalhadores estava atrasadíssimo. Como a noite estava agradável, lá saí eu e o Jony e deambulámos pela baixa. Santa Catarina, Passos Manuel e o regresso ao teatro. Foi nesse regresso que vi a luz! Afinal o comércio do centro é mesmo especial. Afinal ainda se vendem sonhos a preços da chuva no centro do meu Porto. Afinal ainda há vida no peito do meu Porto!
Talvez por isso mesmo para a semana vamos cantar mesmo no meio da cidade e apresentar o nosso “Sete e Pico, Oito e Coisa, Nove e Tal”. É só estar atento aqui ao nosso diário!
Só no Centro do Porto ainda se encontram sonhos por 12€, mesmo que o post-it tenha escrito: "Promoção só esta semana 12€". Quem não perde a cabeça e 12€ por uma semana que seja?Esta visão de vida trouxe-me igualmente à memória o refrão de uma cantiga muito antiga, talvez até pré-vozes, escrita pelo Mário Alves (nosso companheiro aqui nas Vozes até 2002) para um grupo que eu tive com ele e que deve ter durado 2 meses, se tanto. "Esses doces mundos, que brotam de ti/ São a prova viva de que Deus existe/ Podia dormir aconchegado aí/ Não havia noite que dormisse triste". Admito... um pouco rude, mas sincera! E estávamos no início dos 90's, éramos pequeninos... Bom, o mais importante: por aqui se prova que há vida no centro, ali em Santa Catarina quase na esquina com Passos Manuel.

6 comentários:

Anónimo disse...

Agora, nos anos 0's (será que é assim que diz?), a quadra bem poderia ser: "Nesse lugar em rampa/ onde havia umas maminhas/Ora bolas que trampa/Então tinhas ou não tinhas?". Avec le temps tout s'en va...

Anónimo disse...

Também podes dizer ....
Agora, no novo milenio...

enquadra-se melhor!

Okey-dokey!!!

São Rosas disse...

Ou:
"Nesses teus altos vulcões
escalei tanto, Simone,
que entraram em erupção:
Rebentou o silicone!"

San disse...

Ora bolas (sic). Esta opulência é verdadeiramente insultuosa.Vocês, rapazes, babam. Eu rosno!E respondo ao anónimo: Pois tinha, pois tinha.

Anónimo disse...

Avec le temps... Ou mesmo, à Conjunto António Mafra: "Dantes eras mais jeitosa/Eras de pelo na venta/Agora, porra ó Rosa/Arrebenta, arrebenta, arrebenta". Ai cachopa, se queres... etc., etc.

Joca disse...

Estou a caminho da realização: um blog cultural, com poesia, com intervenção, com fervor!
Obrigado a todos que de forma espontânea colaboram para tornar este espaço um contributo para a história da cultura portuguesa. E digo-vos isto mesmo do peito, ou dos peitos... não dos meus, mas dos de quem apanhar!
Fiquem com Deus!