20 julho 2007

Vi-te Picar no Ouriço

Quem já tem o “Sete e Pico,…” ou tem aparecido nos nossos últimos concertos, sabe que “Vi-te Picar no Ouriço” é um tema do António Mafra que gravámos para este novo disco com o Newmax. No entanto, muito antes de o gravarmos, fazia já parte da nossa história.
Vamos lá regredir no tempo. A paragem ou é em 96 ou 97. A estação é algures entre o fim do Verão e o Outono. O local é Lisboa ou arredores. De concreto sei que estávamos a sul para um concerto com o Rui Veloso e que este episódio aconteceu na véspera desse concerto, já que tudo se passou junto à sala de ensaios. Também sei que o carro que tínhamos levado era um confortável Renault Laguna.
O ensaio ia a meio e houve uma paragem. Eu e o Mário Alves, também já não me lembro porquê, decidimos ir ao carro que estava parado a uns 50 metros da sala e mesmo por baixo de um castanheiro. No chão jaziam dezenas de ouriços.
Ao chegar ao automóvel, com tanto ouriço ali à mão de semear, não nos contivemos e, de mútuo acordo, espalhámos alguns no lugar do morto, que é por direito do Vilhas. Perguntam: porquê do Vilhas? Estatuto alcançado através do b.i. (é o mais velho) e da área rectal (os outros quatro juntos não ocupam o que o Vilhas ocupa). No entanto eu e o Mário depois de termos forrado o assento com tanto ouriço pensámos que nunca alguém se iria sentar ali, pois antes de atirar o cadáver para a poltrona veria os ouriços. Por isso mesmo, e porque a maldade é sempre ilimitada, resolvemos por também alguns (os possíveis) na parte de dentro da porta, exactamente no puxador onde enterramos os dedos para fechar a porta. Passou-nos pela cabeça que o Vilhas só muito distraído iria picar ali os dedos. Estava tudo tão visível. Guiados por este demoníaco pensamento, fechámos a porta e apreciámos a obra de arte: não era possível que ele não visse tanto ouriço. Por isso (e mais uma vez porque a maldade não tem limites) enchemos a parte escondida do puxador exterior da porta com ouriços. Esses sim, estavam bem escondidos e o natural seria picar-se nesses, pois iria ter que abrir a porta e o puxador preto em concha, ocultava convenientemente os piquinhos. Voltámos para o ensaio com o sorriso que o Demo gosta e ansiosos pelo desenlace desta(s) partida(s).

Fim do ensaio, os cinco em procissão, dirigem-se para o carro. O Vilhas lidera o grupo falando alto e soltando a verborreia que tanto o caracteriza. Ao chegarmos ao carro, acciono o fecho central e o Vilhas, com toda a confiança, enterra os dedos no puxador. Solta-se a linguagem soez, as imprecações, e saem os dedos do esconderijo com ouriços presos nas pontas. Os restantes desfazem-se em gargalhadas e o Vilhas atira-se com toda a força para a cadeira, sem ter reparado no forro que nós tínhamos colocado. Enquanto se vai afundando no assento e concomitantemente os ouriços vão-se espetando na carne, fecha a porta de raiva, voltando a espetar ouriços nas cabeças dos dedos. As gargalhadas eram tantas que já chorávamos de tanto rir. O Vilhas estava com um ar indescritível. Sai do carro com o rabo cheio de ouriços e os dedos da mão direita com estranhos prolongamentos castanhos e pontiagudos. Nessa altura ajudámo-lo, removendo todos os picos do traseiro e dos dedos. Do ambiente que ficou, da forma como continuámos a rir naquele fim-de-semana e do sermão que o Vilhas nos passou pelo facto de tocar guitarra nada vos conto, deixo à vossa imaginação.
Sei que histórias como esta vão-me reter mais tempo na recepção aquando do dia do Juízo final. Terei que ter bons argumentos para as justificar, mas uma coisa é certa, não tenciono deixar de as fazer… Haja condições e colecciono mais uma para contar aqui!

2 comentários:

Tany disse...

Ha ha... Coitado do Vilhas!

Vê lá se um dia de tanto pregares, não és vítima de alguma partida lol

Bjinhos

isabel disse...

Por favor, nunca contes esta história aos meus filhos, ou mesmo aos meus sobrinhos...não vá às vezes a gargalhada reinar lá por casa...e o ralhete também!!!
Eu por mim já me ri que chegue para um dia inteiro. Que mórbido este prazer de nos rirmos com a desgraça dos outros!