28 dezembro 2007

Deolinda, ai cara linda

Esta é uma canção tão imoral que, apesar de eu a já ter escrito há mais de um ano, nunca tivemos coragem de a estrear. O arranjo a cappella está feito e ensaiado, mas o conteúdo lírico (assinado por um primo que padece da mesma deformação mental que eu sofro) tem-nos inibido de fazer a apresentação pública a vozes da canção.
Quando o Márvio Fisz, da Desigual, nos desafiou para fazer algo diferente e (cito) “soltar a franga”, avançámos para o projecto paralelo RenasSer, inspirado também no tema da festa da Desigual “Life Party”. Nessa altura achámos que este Deolinda, Cara Linda seria perfeito, pois no fundo, trata-se de uma positiva mensagem de vida. Por ser interpretado pelo nosso alter-ego Boys Band de inspiração espiritual e bissexual, optámos pela versão instrumental. A coreografia inteiramente desenvolvida por nós tem raízes nos Kraftwerk, em Gene Kelly e nos rituais tupinambás da Amazónia.
Para poderem beber toda a riqueza da mensagem fica aqui o texto. E fica também a moral: O amor ainda é possível! Basta procurá-lo.


Refrão
Deolinda, ai cara linda,
Menina tão sensível.

Veio de muito longe
De uma aldeia lá de cima
Foi prós têxteis trabalhar
Era Deolinda uma menina.

Num dia muito triste
Malhas que o Diabo teceu
Sobre a infeliz mocinha
Uma desgraça se abateu,

O peso de um fardo de roupa
Nas frágeis costas trazia
Quando caiu nas escadas
E fracturou a coluna e a bacia.

Refrão

Ao cair a pobre garota
Numa panela foi embater
Acabou por ser atingida
Por água que estava a ferver.

Com feias queimaduras,
E a face toda marcada.
Deixou de andar Deolinda,
Na cama ficou entrevada.

Sobre aquela casa humilde
Abateu-se o sofrimento.
Sem dinheiro e aleijada
Vivia Deolinda seu tormento.

Refrão

Na hora da novela
Toda a dor se mitigava.
Os artistas apaixonados,
E a menina sonhava.

Deolinda queria o Amor
Ser como qualquer pessoa.
Mas não há amor impossível
Ainda que isso nos doa.

A crueldade do destino
Voltou para a castigar.
Num mês a ruim doença,
Seus pais lhe veio roubar.

Refrão

Ao colo dos vizinhos
Junto de uma campa rasa
Despediu-se Deolinda
Voltando triste para casa.

Voltou também aos sonhos
Aos desejos de ser amada.
Ter um homem nos braços
Sentir-se mulher desejada.

Se o bem não dura sempre
Quis o destino que um dia
Todo mal se acabasse
Num prémio de lotaria.

Refrão

Deolinda tinha apostado
Os seus últimos tostões
E transformou o seu sonho
Em mais de três milhões.

E a pobre menina aleijada
Uma cadeira de rodas comprou
Foi a Espanha comer marisco
E a sua vida mudou....

Deolinda ai cara linda
Menina tão sensível
Deolinda ai cara linda
O Amor ainda é possível.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quase chorei...
ainda bem que há poetas que acreditam que é possivel ser feliz,embora queimada,numa cadeira de rodas e marcada tanto pela vida como pela água a roupa e as escadas.
Acabam de me devolver a alegria de viver. Bem hajam.
Ps. como sobrou algum do subsídio comecei por comprar a cadeira de rodas. Seria possível obter a letra da menina só com um pézinho?

Do agora feliz, IF-OPEN

Anónimo disse...

São voces que vão fazer com que o Encosta-te a mim passe a tocar apenas 12832213 vez por hora, a partir de agora é "Deolindaaaaaaaa"