20 abril 2008

Bruxarias

As Vozes são, por natureza, pessoas de fé e cheias de energia positiva. Não possuem dons adivinhatórios, nem mediúnicos e talvez por isso nunca foram convidadas para irem a Vilar de Perdizes àquela feira freak que o Pe. Fontes promove. Como pessoas humanas que são respeitam todos os credos, crenças e impulsos metafísicos que os rodeiam.
Talvez por tudo o que está dito acima, acompanhámos com tristeza o incêndio que há cerca de duas semanas destruiu a casa da Cristina Candeias, companheira de algumas manhãs passadas na Praça da Alegria, e que nós (só entre nós, é claro) apelidamos de ciber-bruxa, visto usar sempre um portátil para as mais incríveis vidências.
A primeira pergunta, depois de se saber do nefasto facto foi: e não dava para prever isto? Não dava para salvar o apartamento de luxo (descrição pormenorizada do JN) e os mais de 10 anos devotados ao estudo astrológico? Precisávamos do computador da Cristina para ter estas respostas mas, infelizmente, parece que também foi consumido pelas chamas. A única resposta para o acontecimento foi dada pela própria Cristina, no mesmo diário, o JN, o melhor do país a nível de necrologia e anúncios de massagens: “Estive a trabalhar no escritório e a fumar. Deixei uma vela anti-cheiro acesa e a janela aberta. É muito provável que o vento tenha tombado a vela…”. É também muito provável que qualquer comum dos mortais, sem qualquer dom a não ser respirar, saiba que há coisas que nunca se fazem. É também mais que provável que estas declarações pejadas de sinceridade e pouca clarividência, sejam o melhor argumento para as seguradoras não darem tusto à Dona Cristina. A isto chama-se negligência e não há seguro que cubra negligência, distracção ou estupidez.
Ser vidente hoje em dia não é fácil. As bolas de cristal são Made in China, os cremes para as mãos despistam a quiromancia e os computadores são susceptíveis aos vírus informáticos.
Há no entanto uma nova vaga de videntes: os comentadores, sejam eles políticos ou desportivos. São geralmente formados nas escolas de jornalismo onde, pelos vistos, lhes induzem o poder da futurologia na cadeira semestral Previsões I e II. Esta semana, quarta-feira à noite, o Ricardo Costa, rapaz afortunado que juntamente com o irmão, o presidente António Costa, se livrou do cruel destino de andar nos restaurantes a perguntar “qué frô?”, foi peremptório ao afirmar que Luís Filipe Menezes está de pedra e cal no PSD. Não haverá mudanças até às eleições… Talvez para o contrariar, o dia a seguir trouxe-nos a nova da demissão. Também um comentador de desporto disse na quarta-feira, antes do Sporting-Benfica: “ninguém espere um bom jogo, disputado, animado. É fim da época, os jogadores estão cansados e não há condições para bons jogos”. Eu não vi, mas oito golos num jogo fazem crer que foi, no mínimo emocionante e disputado.
Nós, que já fizemos previsões na defunta NTV (disponíveis no YouTube), não previmos, na altura, o fim do canal. Como não previmos as chuvas destes dias, nem o fim do casamento da Isabel Figueira. Somos pouco dotados na arte da adivinhação, mas ainda assim felizes e com quase toda a certeza podemos garantir que amanhã teremos ensaio, onde vamos gravar algo para ser banda sonora de um programa da televisão.

1 comentário:

São Rosas disse...

Eu prevejo que haverá ensaio se o Alzheimer se esquecer de aparecer...