Nunca tínhamos entrado naquele bar. Há muitos anos aquele espaço chamava-se Salsa Latina (a que nós ternamente chamávamos Salsa Latrina) e cheguei a ir lá. Não me lembro quando foi, mas foi certamente a única vez que pisei aquele solo.
O conceito é interessante e o espaço é bonito. Pelo que nos disseram é a Maya do Tarot que gere aquilo. Não estranhei mesmo nada, pois o palco, ou aquilo que ali se chamou de palco, eram uns polígonos em forma de favo de mel… e toda a gente sabe onde há favos, há abelhas. No entanto, não vimos a Maya. Durante a noite toda reflecti sobre o que leva uma descendente de uma das mais importantes civilizações da América Central a professar agora uma religião Tibetana. Talvez a globalização. Talvez as cartas do Tarot.
A cantoria correu muito bem. Divertimo-nos e divertimos quem nos quis ouvir. Sentimos a falta dos monges, que esperávamos ver espalhados por aquele espaço sagrado. Facilmente descobrimos que deveriam estar em Myanmar. As motivações políticas e religiosas levaram-nos para longe, para defender a sua terra mãe, ou dito de outra forma, foram todos para a Budha que os pariu. Talvez por isso o terreiro ficou povoado apenas por utentes de outros credos. Lá no meio um arquitecto, nosso amigo, cá do Porto e que agora vive nos Açores. Sai o clássico: “o mundo é mesmo pequeno”.
Acabámos essa noite com o Final Countdown que, e perdoem-me a imodéstia, teve direito a uma clarividente apresentação da minha parte: “Tal como a Laufen faz com o que de mais indigno o corpo humano produz, transformando esse momento de solidão num momento de arte, também nós Vozes fazemos com algumas músicas que nunca deveriam ter sido escritas e cantadas”. Pimba! Digam lá que não saiu bem? Eu acho que estive razoavelmente bem (como diria o Jony). Do jantar, que trouxe este momento de inspiração, falarei noutro dia.