05 novembro 2006

Partidas inocentes

Sou um rapaz de bom carácter, um pouco tímido até, regido pelos melhores valores morais e com uma consciência cívica e ética bem acima da mediania. Quis porém o destino, esse erróneo zombeteiro, que me juntasse a um bando de desordeiros, sem educação e capazes das maiores bizarrias sem olharem ao prejuízo do próximo.
É esta nefasta influência que quantas vezes molda a minha conduta. Fora deste antro de víboras, sou exemplo notável para qualquer filho da burguesia. Bem dizia a minha mãe para me afastar das más companhias.
Tudo isto para, se possível, justificar o meu comportamento numa noite de fim de Abril, faz já nove anos.
Estávamos nas gravações finais do Mappa do Coração. Lá dentro estava o Tomi a cantar e nós observando-o do lado de fora do aquário. Nessa altura a moda era o beep que substituía o telemóvel com vantagem, para quem não queria gastar muito dinheiro. Nas Vozes beepava-se sem pudor e o telemóvel ficava só para o Vilhas e para mim. Que raio de ideia me havia de passsar pela cabeça naquela altura? Mandar um beep para o Tomi, é claro. Só que não podia ser uma mensagem qualquer. Teria que ser algo que o desassossegasse verdadeiramente. E nada melhor do que uma mensagem alarmista para um individuo que estava para ser pai pela primeira vez por esses dias. Olho para ele do outro lado do vidro, pego no telemóvel e mando a seguinte mensagem: “A Sofia já está cá fora. Vem para casa. Beijinhos” e assinei com o nome da mulher do meu colega. Depois ficámos todos a observar do lado de fora. O acto do nosso amigo sacar do bolso o aparelho, ler a mensagem e a saída em presto cá para fora. Depois aproximou-se e muito titubeante pediu-me o telemóvel. Enquanto isso nós, com a cara mais inocente, íamos acompanhando cada gesto seu. A verdade é que ele estava tão desnorteado que não conseguiu marcar o número de casa. Nessa altura eu, cão, perguntei-lhe o que se passava e ele não foi capaz de dizer muito: apontava para o beep e pediu-me para lhe ligar para casa que não estava a conseguir. E tremia muito. Aí não me contive. Desatei a rir, seguido pelos outros, e o Tomi readquiriu a cor normal. Percebeu logo que tinham sido os seus queridos colegas, em mais uma brincadeirazinha inocente.
Tomi, não que adiante muito nesta altura, mas mais uma vez desculpa. Por esta e por todas as outras… ainda assim não prometo que tenham acabado.

Instalação para pessoa e tripés. "O menino que não se tinha de pé". António Miguel, Abril de 97. Estúdios Rangel.

1 comentário:

Tany disse...

Eu sempre pensei que o Tomi era o "piorzinho" do grupo (no sentido das brincadeiras, claro) mas depois deste post já não sei, não lolol... Vocês são tão mauzinhos :P