A extraordinária prosa do meu colega Jony sobre a cromação fez-me recordar uma série de desvios linguísticos que vou coleccionando de memória e que me deliciam, introduzindo estes neologismos, quantas vezes, no meu dia-a-dia.
Era pequeno, talvez 8, 9 anos, e estava com a minha mãe numa loja, quando ouvi uma senhora a dizer que tinha apanhado um bilros. Um bilros muito forte. Troco olhares com a minha mãe e mordi-me todo para não me rir. Ainda hoje no seio familiar, quando estou meio gripado, refiro-me ao bilros. Sim, porque não há Inverno em que o bilros não se aloje em mim. Outra recordação de infância passa por uma conversa didáctica com um jardineiro camarário. Eu, na melhor tradição clássica, gostava de coleccionar saberes e dessa vez tentava perceber quantas vezes se devia regar uma planta. Ele então explicou-me que há plantas mais sedentárias que outras. E as sedentárias precisam de muita água. Já os cactos não (serão nómadas? pergunto-vos eu).
Anos mais tarde, já adulto, confrontei-me com expressões dramáticas como “fazer um taco à queluna”, “ter um filho suficiente”, ou um irmão “toxodepente”. Há ainda o caso do outro irmão que morreu de “rebordosa”. Depois há quem sofra das engivas ou quem tenha problemas no diódeno. Quem gumite o almoço por má dingestão (mistura simpática de digestão com congestão). E há ainda quem sofra das hemorródias (sofrimento diário, como se infere da palavra). A medicina fornece um manancial de novas expressões que não se encerram por aqui. Noutra vertente, uma das mais deliciosas que ouvi foi no autocarro onde uma senhora pergunta à vizinha se “o baso que pus à entrada do prédio estroba?” “Não estroba nada” respondeu a outra. Qual estrobar, qual quê!
Uma amiga psicóloga sabendo deste meu fascínio linguístico passou-me duas expressões geniais. Uma delas foi uma mãe que lhe pediu para abrir as cédulas da filha (gesticulando à volta da cabeça) porque a menina tinha dificuldades de aprendizagem. Já uma outra estava com problemas porque tinha tido um esgoto cerebral.
Nisto também há clássicos nacionais. O há-des ver, por exemplo. E a conjugação da segunda pessoa singular. O fostes, o tivestes, o entrastes e o saístes entre tantos outros.
Para terminar repito a última, arquivada há uma semana. Andava eu de carrinho na rua com um dos herdeiros, quando ele desata a chorar. O motivo é o de sempre. Viu alguém a comer. Não fosse meu filho e parecido comigo, diria que é um aspirador. Perante o choro da fome, aproxima-se uma anciã que pergunta “o que é meu menino?”. Eu lá esclareço a senhora e ela diz-me: “tenho um netinho tal e qual! Sabe o que são meu senhor? Uns alarmes, uns alarmes!!”. E alarmado fiquei, para o resto da vida…
Era pequeno, talvez 8, 9 anos, e estava com a minha mãe numa loja, quando ouvi uma senhora a dizer que tinha apanhado um bilros. Um bilros muito forte. Troco olhares com a minha mãe e mordi-me todo para não me rir. Ainda hoje no seio familiar, quando estou meio gripado, refiro-me ao bilros. Sim, porque não há Inverno em que o bilros não se aloje em mim. Outra recordação de infância passa por uma conversa didáctica com um jardineiro camarário. Eu, na melhor tradição clássica, gostava de coleccionar saberes e dessa vez tentava perceber quantas vezes se devia regar uma planta. Ele então explicou-me que há plantas mais sedentárias que outras. E as sedentárias precisam de muita água. Já os cactos não (serão nómadas? pergunto-vos eu).
Anos mais tarde, já adulto, confrontei-me com expressões dramáticas como “fazer um taco à queluna”, “ter um filho suficiente”, ou um irmão “toxodepente”. Há ainda o caso do outro irmão que morreu de “rebordosa”. Depois há quem sofra das engivas ou quem tenha problemas no diódeno. Quem gumite o almoço por má dingestão (mistura simpática de digestão com congestão). E há ainda quem sofra das hemorródias (sofrimento diário, como se infere da palavra). A medicina fornece um manancial de novas expressões que não se encerram por aqui. Noutra vertente, uma das mais deliciosas que ouvi foi no autocarro onde uma senhora pergunta à vizinha se “o baso que pus à entrada do prédio estroba?” “Não estroba nada” respondeu a outra. Qual estrobar, qual quê!
Uma amiga psicóloga sabendo deste meu fascínio linguístico passou-me duas expressões geniais. Uma delas foi uma mãe que lhe pediu para abrir as cédulas da filha (gesticulando à volta da cabeça) porque a menina tinha dificuldades de aprendizagem. Já uma outra estava com problemas porque tinha tido um esgoto cerebral.
Nisto também há clássicos nacionais. O há-des ver, por exemplo. E a conjugação da segunda pessoa singular. O fostes, o tivestes, o entrastes e o saístes entre tantos outros.
Para terminar repito a última, arquivada há uma semana. Andava eu de carrinho na rua com um dos herdeiros, quando ele desata a chorar. O motivo é o de sempre. Viu alguém a comer. Não fosse meu filho e parecido comigo, diria que é um aspirador. Perante o choro da fome, aproxima-se uma anciã que pergunta “o que é meu menino?”. Eu lá esclareço a senhora e ela diz-me: “tenho um netinho tal e qual! Sabe o que são meu senhor? Uns alarmes, uns alarmes!!”. E alarmado fiquei, para o resto da vida…
3 comentários:
Não queres contribuir para a minha colecção? ;)
http://amorizade.wordpress.com/?s=%C3%BArsula
e só para te rires lâ esta: http://amorizade.wordpress.com/2005/04/09/siglas-com-sotaque/
Alguém um dia disse:
"Este ano fui passar férias a belidorme".
LOLA*
Enviar um comentário