07 novembro 2006

Questões de estética

Aqui fica mais um capítulo das questões que se me colocam no dia-a-dia. Esta apareceu numa sexta solarenga, logo pela manhã. Antes de uma aula de composição, fui ao café onde habitualmente tomo a dose para as duas primeiras horas. Já lá me encontrava refastelado, quando entram uns alunos e perguntam-me o que achava sobre a parede pintada. Eu nada tinha visto. Eles lá a descreveram e começou ali uma discussão estética que se prolongou sala dentro e que naturalmente resvalou para questões musicais. À saída tive oportunidade de mirar a declaração e registá-la para a posteridade. E foi engraçado ver que conceitos como piroso, coragem, paixão, romântico, foleiro, e outros tão díspares se aproximam quando o assunto é uma declaração. Mas fui perseverante e depois da aula perguntei às minhas colegas o que achavam daquilo ali. Depois colocava noutros termos: e se fosse para ti? A verdade é que também aqui as opiniões mudam. De colega para colega. De situação para situação. Se o Pessoa já falava que todas as cartas de amor são ridículas, a verdade é que todos os muros só o são se não são escritos por e para nós. A esta conclusão cheguei depois auscultadas todas as opiniões, sobretudo as femininas, e de cantar o irmão Monge no Mudo Tudo do nosso Mulheres. Aqui fica um excerto desse poema: Por ti mudo o meu futuro/ meu nome, minha rubrica/ deixo de ser do Benfica/ mudo para verde escuro/ como só de garfo e faca/ até viro a casaca/ e escrevo tudo num muro

2 comentários:

jacky disse...

O que tenho a dizer sobre as palavras desse muro é que lhe desejo o soneto da fidelidade do Vinicius de Moraes:


De tudo, ao meu amor serei atento.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Aldina Duarte disse...

Se fosse para mim mandava pintar a parede e ficava com o autor da ideia da escrita :-D

Que bom ter um motivo destes para pensar num dia de trabalho!


Até sempre