03 setembro 2006

Crónica de uma despedida de solteiro II (as gajas)

O jantar ficou para trás. Melhor, ficou nas nossas costas porque há também um ritual que se repete nestas coisas. Fica toda a gente à porta do restaurante a decidir para onde se vai. Como já ninguém está no seu perfeito equilíbrio a discussão prolonga-se muitas vezes por horas. Esta não fugiu à regra. Vigo, Porriño, Carvalhos, Marco de Canavezes, um sítio muito jeitoso em Santo Tirso, o Porto que fica mais perto… De Vigo falaram-me de um local estilo “grande superfície”. Uma coisa em grande. Apesar de ser um defensor do comércio tradicional, a ideia de um hiperbar seduziu-me até porque, a acreditar na revista da Deco, é nestes sítios que se poupa mais. Já eram duas da manhã e de facto havia muito nevoeiro. Dentro e fora da minha íris. O destino àquela hora só podia ser o Porto. E o centro.
Lá me meti no carro e, valendo-me da experiência adquirida pelos anos, segui um carro de um dos convivas, o do Mari Carmen. Atrás vinha o Mário. Podia ter escolhido melhor lebre. O Mari Carmen deu umas voltas incompreensíveis ao quarteirão. Estou a ser injusto. Àquela hora, naquele sítio e depois do jantar tudo era justificável. Fiquei a conhecer melhor (como se precisasse) a zona industrial. Finalmente encarreirámos rumo à Rua da Alegria. Porque era disso mesmo que toda a gente precisava: alegria. Aquilo que há uns anos foi bar da moda, com filas à porta, é hoje, com outro nome, um bar de strip, daqueles com varões e com disc-jockey que vai dizendo o nome das modelos (?) com uma reverberação que faz com que nada se perceba.
Chega a hora de confessar que estes lugares nada me dizem. Depois de ver um, vemos todos. Mais uma vez só muda o elenco. De resto, o filme é sempre o mesmo.
Havia meninas de pelo menos dois continentes: brasileiras, é claro (regra geral são estudantes de psicologia com umas cadeiras atrasadas) e do leste da Europa (podem ser de vários países, mas como já referi não percebi nada do que o disc-jockey dizia).
Ao som de “I believe I can fly” uma stripper dança, trepa ao varão, escorrega e depois de estar sem roupa, tapa-se com as mãos numa atitude pudica. Para quê meu Deus? (será prudente invocá-Lo nesta situação?). Segue-se outra e outra e outra. Fixei mais as músicas do que os passos de dança. Quase sempre baladas. No fim pedia-se aplausos. O melhor acontecia fora do redondel. O Securas, emérito advogado da nossa praça, abordou uma brasileira perguntando-lhe se era legal ou ilegal. Ofereceu os seus préstimos, soube que ela se chama Daiane e que vive na Areosa. Arranjou com certeza uma protegida, alguém a quem ele, com o seu espírito mais humanista, vai prestar assistência dedicada. Talvez por isso ela dedicou-lhe o strip. Foi bonito. Não me esqueço também do comentário do Mário (grande voz!) ao meu ouvido. Ele estava impressionado e num tom quase evangelizador disse-me: “estas tipas, assim tão lindas e tão bem feitas, podiam arranjar um marido e constituir família!”. “Pois podiam”, respondi eu. Não era capaz de articular mais nenhuma palavra, nenhuma ideia naquele momento. Mudei para Cola. Atitude sensata.
Momento da noite. Acontece sempre. O table dance para o noivo! Desta vez à frente de todos! Que excitante. Outra brasileira (esta tinha mais ar de ser estudante de veterinária) senta o Tó num sofá e esfrega tudo que há para esfregar no rapaz. A bancada à volta aprecia. Tudo a olhar sofregamente. O Tó no fim confessa que não “reagiu”. Não houve “reacção”. Compreensível amigo. Naquela situação, com o povo todo a ver, nem que fosse a Meg Ryan de há uns anos atrás e a Nicole Kidman (conforme está, que está bem), as duas ao mesmo tempo, provocariam o que quer que fosse neste teu amigo. No mínimo patético, o pobre do rapaz a ser literalmente espezinhado por dois peitos (sim, ela tinha dois!) e uma corja de bestas (na qual me incluo) a ver cada pormenor, cada movimento, como se fossemos júris de um combate de sumo ou de luta greco-romana.
A noite continuou. Mais umas conversas, uns olhos já semicerrados, um pesar da cabeça e a debandada quase geral passava das quatro. Houve quem continuasse. Eu fui à procura do carro. Depois de entrar, e quando já arrancava, vejo algumas das estudantes brasileiras à janela. “Oi gatinho, dá uma carona?”. Apesar de todo o meu altruísmo, não foi possível. Olhei para trás e… nunca as sentaria nas cadeiras dos miúdos. Não é cómodo para as estudantes. E, apesar da hora e de tudo o resto, ainda há um neurónio a funcionar. Foi esse que me levou a casa, sem que antes me tivesse enganado duas vezes no caminho. Dia 16 há casamento. Que bom!

4 comentários:

Anónimo disse...

As Bozes criaram um Vlog?! Toda a vaca do mundo para as Bozes e o Benfas!
Abraço do Sul!

Anónimo disse...

Só para referir que a agressão de que foi alvo por 2 objectos não identificados, bastante redondinhos por sinal, vai ser alvo de uma queixa na PSP.

O Nubente
ps vigo teria sido melhor opção, ao que me contaram como é óbvio lol

Anónimo disse...

E eu não fui... será que em Lamego há dessas coisas? O noivo poderá ir? Se não puder vão os convidados por ele!

São Rosas disse...

É por estas e por outros que a Tuna Meliches prefere despedidas de casados!