27 setembro 2006

Papel higiénico

Este blog tem assumido muitas vezes um papel revivalista, como se de um livro de memórias se tratasse. Ora, nós ainda não morremos, ou pelo menos ninguém nos avisou de tal… por isso há que também ir abrindo um pouco as cortinas em relação ao que vamos fazer num futuro próximo, para os senhores leitores irem começando a poupar uns trocos e assim terem onde gastar uns míseros tostões daqui a uns meses.
Conta-se que certo dia John Lennon estava com os seus colegas de grupo num hotel. A certa altura levantou-se e disse: ”vou compor uma piscina”. Com certeza o que escreveu, deu para a piscina, para a casa que estava à volta, bem como para o carro.
Pegando na brilhante frase dele hoje posso dizer que compus um rolo de papel higiénico. Mais, como produzi mais do que um escrito musical, acredito que dê para um pacote duplo. Não do papel mais suave. Falo daquele folha única, rugoso e áspero que nos faz pensar logo em lixa de água. Acredito seriamente que hoje fiz música que vale um pack do pior e mais barato papel do mercado.
Então, e para desvendar um pouco mais, digo-vos que a “Deolinda, cara linda” viu pela primeira vez a luz no dia de hoje. É um tema que está ao nível do nosso pior, onde a imoralidade, a falta de vergonha e até a demência se cruzam num cocktail musical. É muito natural que figure no próximo trabalho das Vozes. A este futuro hit da decadência seguiram-se 2 pequenos apontamentos musicais: um estará disponível brevemente naquela que será a melhor página da web de um grupo a cappella português. A outra até já tem título: “Acalanto para o menino, depois de ouvir Marisa Monte” e foi resultado da batalha que enfrentei pouco tempo antes de me sentar aqui à frente do computador. Garanto-vos que é maior o titulo do que a música. Mas, modéstia à parte, até me soa bem.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nada tem a ver com papel higiénico. Tem sim, a ver com a importância da cadeira em que uma criatura se senta. Por ex: O que fez de Pedro Santana Lopes primeiro - ministro, foi o facto de ter herdado a cadeira do gabinete em S. Bento. Ele manteve-se igual a si próprio. O polimento do assento daquela cadeira deu-lhe por momentos aquele poder. Proporcionou-lhe aquela importância.
A Bárbara Guimarães por ex., quando se senta, nem que seja na cozinha, terá sempre toda a importância, também por aquilo que é. Não vale a pena referir os atributos. Fiquemos apenas pelo ícone cultural.
Estou a afastar-me do assunto.
Quando compomos a piscina, a prestação da casa, o foie gras ou o rolo de papel higiénico, há sempre um intermediário. Alguém que avaliará a tua colecção de colcheias, e decidirá se podem entrar na corrida dos goodies.
Esse gajo/a, tem que ser iluminado ao ponto de poder prever o destino das tuas colcheias. Para tal deduzimos que passou uns bons anos a ouvir todo o tipo de música, apercebendo-se do gosto colectivo dos vários grupos culturais, sociais, etc... Na minha opinião, deverá ser um gajo, no mínimo com uma cultura alargada em vários domínios. Afinal de contas esse gajo vai ser juíz. Ele vai decidir se o que fazes tem interesse, ou melhor, ele vai ter que interpretar a piscina, o papel higiénico, ou lata de feijão que existem na música que fazes. Admitamos que tal figura tem que existir.
Esta figura, existente nas companhias discográficas dá pelo nome de A/R (artistas e reportório), cabendo-lhe a ingrata tarefa de avaliar o trabalho dos músicos e compositores, ou ainda, nos casos mais visionários, criarem galinhas dos ovos de ouro. Alguns fizeram-no com sucesso. Não nos esqueçamos, à escala mundial, dos Milli Vanilli, ou os Excesso e DZrt's da nossa praça, que valem piscinas, ou mesmo jactos particulares durante um curtíssimo espaço de tempo. Haja uma boa coreografia, boas e jovens caras, de preferência andróginas Q.B., um guarda roupa cuidadíssimo, e para quê preocuparmo-nos com pormenores como a música?
Bom, mas o que faz de um a/r o que é, acaba por ser a cadeira em que se senta. Ao longo dos anos, conheci vários, com sucesso, ou sem ele. Naquela cadeira, onde se decide se a tua música vai a jogo, eu vi gestores, empresários, jornalistas, e até músicos. Durante o (geralmente curto)espaço de tempo que ocuparam a cátedra, essas figuras tiveram poder sobre o destino do teu trabalho. Ou seja, percebem imenso, imenso de música e de como a divulgar, e depois descem desse Olimpo e a sua opinião, normalmente deixará de contar. Conheci um que de um modo geral não gosta de música portuguesa, e que acha que do melhor que se fez na música nos últimos anos são os discos da Joss Stone. Havia outro que só gostava de hip-hop... Uma boa parte destes juízes têm uma cultura musical limitadíssima , o que não é bom para ninguém.
Continuo convicto que essa entidade que é o público, não é burro, mas é indefeso. No fundo, comemos o que nos dão, e apenas uma pequena parte de nós tem acesso ao que se faz de menos primário. Olhe-se para o que é mais consumido. Chega a ser arrepiante.
O mais grave de tudo isto, é que no final de contas, temos músicos como o José Mário Branco, ou os Gaiteiros de Lisboa, ou o Mário Laginha, ou o José Peixoto,só para citar alguns, cujo trabalho passa quase ao lado. Grupos como o vosso, ou o meu, o Sérgio Godinho, o Palma e tantos outros, estamos hoje nas franjas da indústria. Somos produtos das 2 da manhã no canal 2. O pop dos Clã é quase subversivo. Até o Veloso passa às tantas no canal 2, mas um tipo que o imite, terá certamente tempo de antena em horário nobre.

Anónimo disse...

Já foram ver o vídeo que a Gotinha tem lá da vossa versão teenager.?!?
Está muito bom!!!
Alcinda

Anónimo disse...

http://www.blogotinha.blogspot.com/

Anónimo disse...

Em tempos, para ser mais precisa, em passeio, contaram-me sobre essa pérola da vida do Lennon. Interessante, assim como a comparação. É sempre bom quando o compositor reconhece as suas limitações... Papel higiénico já não está mal. Sempre é produção. E Marisa Monte tem coisas bonitas, logo, quem sabe no meio de tanta folha não surge uma dupla, vá lá!
Para todos os efeitos, a expectativa é grande.

E "Deolinda, cara linda" soa tão lamentável como atractivo. Será certamente um momento alto do próximo concerto das vozes!

Continuação!

N. Carmen

Anónimo disse...

Deixa que te diga que "essa é que é...esssa"....nem tudo tem que ser uma pepita, pode não ser reluzente mas se surgiu de uma qualquer forma expontanea, certamente não será fogo de vista, ou seja, por outras palavras, acho (já agora) deprezível a mistificação, de por exemplo, os "lados b" ; acredito que antes simples e "taxativo" que misterioso e messiânico- mil vezes mil, p.f.- acho (permitam-me) que está (quem sou eu p´ra escrever?! na moda (é impressionante, a sério), pegar numa ou noutra explosão pessoal, ocasional (como é?...«lost lyrics», ou algo parecido) e transformá-la em tesouro, genuíno...quase, (mas só quase) escondido (do ganda público), dir-se-ia que por develar...pá, e se apenas der gozo, não conta? perdeu o encanto?...parece tão lógico que até me chateia (a mim próprio inclusive, não vos condeno por estarem fartos de lerem isto).
Bem, mas o que vale tudo isto se não continuarmos a rir?