17 setembro 2006

O casamento - capítulo II

Aperitivos

É sabido. Desde as bodas de Caná que casamento sem vinho, não é casamento. Cristo, que revolucionou e revoluciona o homem a nível espiritual, marcou igualmente a história do vinho. Ao ceder ao pedido de Sua mãe (e qual é o bom filho que não o faz?), transformando água, que nem sabemos se era potável, em vinho, condenou a que todos os pobres de carteira e/ou de espírito ficassem de fora das bênçãos do matrimónio. Porque quem não serve vinho, não casa! Este problema arrastou-se até há pouco. Com as uniões de factos os miseráveis puderam finalmente assumir a sua relação evitando despesa com o néctar dos deuses. Mas eu estava num casamento daqueles a sério e sabia que vinho não ia faltar.
Terminada a cerimónia vai tudo a passo animado para o Hotel Lamego. Excelente escolha porque é perto da Sé e porque para muitos o banquetear no hotel significaria apenas o uso de um transporte no fim da festança: o elevador até ao quarto. Assim não fiz eu, que não marquei quarto e consequentemente tive de regressar a casa.
A espera por todos os convidados e pelos noivos foi um pouco pesarosa, não que o sitio fosse mau, antes pelo contrário, mas porque estômagos fracos e necessitados mexiam com a percepção do tempo e recordavam o célebre fado “as horas pra mim são dias, os dias pra mim são meses…”. Eram 17h02m e estávamos todos num anfiteatro para a foto de família.
Depois foi a cavalgada heróica até ao local dos aperitivos. E lá chegados foi o saciar dos apetites. Nada faltava. Tudo à grande e à beirão! Havia comidas para todos os gostos. Eu encostei-me aos produtos da terra que são sempre os melhores: todas as espécies de fumeiro, bolas de carne e de sardinha e até o conhecido camarão tigre de Lamego.
Antes porém, passei por uma situação insólita. Mal entrado no salão dirigi-me às bebidas e pedi um gin tónico (clássico destes momentos). Colocam gin num copo alto, procuram a água tónica e… minutos depois despejam sprite no copo. “Tem de ser assim…”. Fiquei atónito. Como classificar este episódio? Como um sinal divino, por certo. Estando no Douro sul, porquê o gin tónico? Ele mais uma vez mostrou-me o caminho certo. Bebi a mistela e estabilizei no branco da região.

Aqui tendes o vosso cronista social com um copo, um camarão tigre grelhado, um garfo, um guardanapo e um cigarro nas mãos. No nó da gravata está implicito já algum desnorte
Do outro lado vi o Adélio já dentro do balcão a tirar finos. À volta dele estava o Joe, o Cavadas, o Atila. Juntei-me, juntou-se o Vanessa, apareceu o Tó, depois o Chaves e lá fomos ruminando e bebendo. O ambiente era animado.
O Tó foi para as fotos. Para a história fica a foto com a tuna e o final tocante com o Darth a oferecer o disco de José Cid autografado ao recém-casado.

O final dos aperitivos soava já a fim de festa. Joe sabiamente disse que já não era preciso jantar, com tanta comida ainda ali. Pois estavas certo, índio Joe. O que se seguiu já foi mais uma prova de resistência. E nós fomos bravos combatentes.

O jantar

Jantar? Sim, pelas horas. Para mim seria almoço, mas ninguém almoça às 7 da tarde.
Bem comportados lá fomos ver as mesas. Fiquei na extraordinária companhia dos tunos Darth, Mari Carmen e Mário mais as suas respectivas. Ficou também na nossa mesa o prof. João Campos de guitarra e o Sérgio.
Sopa, peixe e carne como manda a tradição. Li a ementa e estava lá tudo. Entraram músicos cubanos e ao som de Besame Mucho entrou o casal.
Toda a gente gabou a qualidade dos pratos servidos. Toda a gente bebeu na medida das suas possibilidades. Descobri ao fim de vários anos que o Darth afinal é Bruno e que o Mari Carmen tem como graça João. Entrecortámos pratos com umas cigarradas e à sobremesa fomos presenteados com uma selecção fotográfica com cenas da vida dos noivos. A banda sonora foi do melhor e começou logo a cappella com o Trio Esperança a cantar o corcovado. Nem sabes como eu gosto desta música Tó!
O jantar estava no fim. Não pude deixar de reparar na garrafa que nos foi acompanhando antes das carnes: “o final de boca é agradavelmente longo”. Lancei a questão aos comensais e senti algum gelo. No fundo foi o meu momento sapatilha cor-de-rosa. Ninguém se quis pronunciar sobre isto. Hoje eu percebi o que quer dizer. O final prolongou-se pelo dia de hoje. O que não é, é muito agradável. Acho que chamam ressaca.




2 comentários:

Gotinha disse...

O cronista social está com um ar muito distinto!
;-)

Anónimo disse...

Comer, beber e fumar, tudo ao mesmo tempo. Não é para quem quer, é para quem sabe.
Abraço! Joe