11 setembro 2006

Onze

Faz já cinco anos. Na altura as Vozes andavam atarefadas com o concerto dos 10 anos no Rivoli e com a participação no Porto Cantado no Coliseu. Eu mudava de casa e de estado civil. Nesse início de tarde almoçava e via as notícias. Tudo parecia estupidamente estranho. Até o comentário do jornalista que falava num Cessna (Portugal desde 1980 tem traumas com Cessnas) da polícia que tinha acabado de embater numa das torres. Do pouco que percebo e pelo que vi achei que não era um aviãozinho qualquer. Tudo em directo. Saí para dar a primeira aula desse ano lectivo. Quando voltava e ouvia na rádio o que se passava, lembrei-me do poema que tinha lido essa manhã. Chama-se réquiem (com acento e tudo) e é de Astrid Cabral, uma poeta amazonense.
Premonição? Terei poderes mediúnicos? Deveria estar a vender previsões em Vilar de Perdizes? Não, simples coincidência, que leva a que nunca mais esqueça o dia em que li este poema.

Réquiem

Pesado é o coração
do escombro de teus sonhos
e dos mortos que em teus ombros
repousam imortais.
O amor de ontem
é cinza feita chumbo.
Cicatrizes e rugas
lavram a tua carne
de aflições temperada
e a vazante das veias
irriga-se
de subterrâneas lágrimas antigas.

(in Ponto de Cruz)

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