10 setembro 2006

O meu popó

Foi a 6 de Julho. Exactamente 1 mês depois do dia da besta, o terrível 6 do 6 do 6 (não sentiram a diferença? O mundo mudou nesse dia meus amigos, acreditem), que o meu carro lambeu com alguma violência um desnível normal em terreno acidentado. Segui viagem porque para a frente é que é o caminho. Tocava na rádio “I got my mind set on you” e eu cantava. Algo brilhou a meus olhos. “Curioso” pensei, “nunca esta luz vermelha do óleo me acendeu. Tenho mesmo que levar o carro à revisão”. 300 Metros à frente numa estação de serviço, parou. “Deve ser o cárter” falou voz sapiente. Para mim nunca um ex-presidente americano podia ser culpado do sucedido, mas esta gente percebe disto. Vem um técnico. O técnico, diria mesmo. “Não sei se não atingiu o motor”. Trata-se da boleia, passa-se as chaves do paciente ao clínico e lá sigo com um amarelo-torrado nos lábios. O telefonema de tarde confirma o veredicto: a cambota, os bronzes das vielas (gostei muito deste nome, mas não faço a mínima ideia o que seja), o cárter (mais uma vez a América a meter-se onde não deve), tudo pronto para ir para o lixo. “Isto agora é mais ou menos 1 semana. Chegar as peças, montar, rectificar… demora Sr. Jorge” (leia-se Sejorge). Uma semana até ia fazer bem. Conhecer o metro, o comboio… há gente feliz nos transportes públicos. Ia ser bom, há males que vêm por bem.
Dia 4 de Setembro. Cansado, esgotado, exausto de viver da misericórdia da boleia alheia, do carro emprestado, da irritante voz-off do metro recebo um telefonema. O telefonema: “Sr. Jorge o seu carrinho tá pronto”. Faltou-me a força para a ironia “Já?”. “Isto já se sabe, carros dos gajos com olhos em bico é no que dá. Nunca têm peças. É uma merda”. “Pois é”, lamentei com voz derrotada. “E o que f… tudo foi o cárter ter partido e bocê ter continuado” (pensei: ainda assim melhor para o cárter estar partido, do que estar morto como o Reagan). “Se eu soubesse que o tinha partido, não tinha continuado”, respondi quase pedindo desculpa. “Vamos lá a contas…”. Aqui o decoro e a vergonha não me permitem escrever o número da minha estupidez. Deixo o enigma. Mais 4 euros e custava-me o ano em que nasci. E foi assim que senti: “nasce um gajo pra isto. Para gastar dinheiro nos bronzes das vielas, na cambota, no sensor de não sei quê, na correia…”.
Vivo agora em estado de euforia. Canto o “Calhambeque” do Roberto Carlos, grito com os Beatles “Baby you can drive my car…” e ouço com atenção “O meu popó” de um grupo a cappella com algum jeitinho que em 2000 fez a inauguração do Museu dos Transportes e Comunicações da Alfandega do Porto. Ficou tudo registado em disco, o terceiro dos senhores com título “Mais Perto (uma produção comunicativa)”. Visitem o museu que vale a pena. E na saída comprem o cd que não é mau de todo, apesar de eu já não ganhar nada com isso. De aperitivo, ouçam lá o tema dedicado ao automóvel. Também é o mais idiota do disco. E não se esqueçam “dos gajos de olhos em bico” só mesmo alguns carros japoneses. Coreanos não, ensinou-me o Sr. Castro.


1 comentário:

Maria disse...

Os pó-pós foram uma grande invenção, mas quando chega a hora de ir ao mecânico, temos q ser fortes, abrir a bolsa, e depois esquecer.
Mas olha que o metro e o autocarro tbn têm os seus encantos. Não andaste neles o suficiente para os encontrar, não foi? Fica para a próxima...
Obrigada pela visita. Eu tb vou voltando.
Beijos.